sexta-feira, 21 de março de 2008

Ambientalistas denunciam expansão do olival intensivo no Baixo Alentejo

13.03.2008 Helena Geraldes.

Quatro associações ambientalistas portuguesas denunciam a crescente reconversão do olival tradicional em intensivo no Baixo Alentejo, baseado na aplicação de herbicidas e no regadio. Quercus, Ceai, LPN e Spea criticam a transformação do campo em verdadeiras unidades industriais. “Por todo o lado, a paisagem está a mudar”, conta José Paulo Martins, da Quercus de Beja, ao PÚBLICO.Numa altura em que o azeite é um dos sectores considerados estratégicos para o Governo, o olival intensivo é uma opção que tem cada vez mais adeptos. A Herdade dos Machados, que já teve o maior olival da Península Ibérica e tem parte em Rede Natura 2000, poderá reconverter 4200 hectares. “Não temos nada contra o olival” – a “aposta ideal” para a Quercus seria o olival biológico - e “não negamos que [a produção intensiva] é muito rentável”. Mesmo com os apoios ao método tradicional. Mas esta “galinha dos ovos de ouro” não leva em conta os custos ambientais.Segundo José Paulo Martins, a aplicação de herbicidas retira a protecção vegetal dos solos, o que leva à erosão, e o habitat de várias espécies animais e de plantas. O olival, diz, “é um deserto”. As plantas que resistem aos herbicidas são as menos diferenciadas; as mais sensíveis desaparecem, empobrecendo o matagal mediterrâneo. “As linhas de água transformam-se em canais. Não se vê uma erva entre as oliveiras. Deixa de haver campo para passar a haver unidades industriais”. Para este dirigente, “o que é pior é quando se abatem montados de sobro e de azinho para a plantação de olival intensivo”. A Quercus diz estar a acompanhar casos destes em várias herdades. “Algumas árvores até já estão marcadas” para o abate. Esta é mais uma das pressões aos montados do Baixo Alentejo, depois da barragem de Alqueva – que inundou vários hectares - e dos projectos imobiliários. José Paulo Martins fala ainda da relação com a terra. “Os novos proprietários, grande parte deles espanhóis, não têm a mesma ligação à terra do que os agricultores tradicionais, que sentiam a herança dos pais”. Já há mesmo estrangeiros que são intermediários, ou seja, compram para depois vender, conta. Tudo porque o hectare de olival em Espanha continua a ser mais caro, acrescenta. Além disso, o preço de um hectare de olival no Alentejo está a aumentar, atingindo hoje os 15 mil euros. O ambientalista chega a falar de especulação. “Nem com bons sobreiros tínhamos estes preços, há uns anos”. O problema passa pela falta de fiscalização e de comunicação entre a Direcção-Geral de Florestas e a Polícia Florestal da GNR, considera o ambientalista. “Era preciso que os serviços soubessem o que estava previsto plantar e o que foi, de facto, plantado”, referindo-se ao número de árvores por hectare. O mesmo se passa com o abate de árvores. Actualmente, as únicas com protecção legal em Portugal são a azinheira e o sobreiro. Em comunicado conjunto, as quatro organizações – Centro de Estudos da Avifauna Ibérica, Quercus, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e Liga para a Protecção da Natureza - denunciam as falhas do Estado em “garantir o financiamento e gestão da ZPE [Zona de Protecção Especial] de Mourão/Moura/Barrancos e do SIC [Sítio de Importância Comunitária] Moura/Barrancos, e da Rede Natura 2000 em geral”. Os ambientalistas falam da “insuficiência de verbas destinadas ao financiamento de actividades agrícolas alternativas no âmbito do novo Programa de Desenvolvimento Rural (ProDeR), actividades estas que permitam a opção por modelos agrícolas que garantam a compatibilização entre o desenvolvimento rural e a conservação da natureza”.As organizações garantem que “qualquer projecto de agricultura intensiva que ponha em causa os valores naturais da Rede Natura 2000 terá uma oposição forte e determinada das ONGA [organizações não governamentais de ambiente] nacionais”. Em Penamacor (no campo frio) vai acontecer o mesmo. Cortaram os eucaliptos e vão fazer o olival intensivo. Já agora adivinhem quem? Os espanhóis, esses mesmos.

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